O drama de um poeta que passou a vida procurando algo que não via, ouvia e muito menos sentia, transformando seus anos em um misterioso caos. Um poeta que nunca se quer preencheu com suas palavras uma só linha? Sim! Esse tal de Fugêncio Rabugento. É ele mesmo! Que indignado com seu persistente fracasso poético, resolve partir, surgindo então seu Epitáfio que pela primeira vez antes de sua morte física escreve o seu primeiro e único poema. Sempre rude e impenetrável, o mais Rabugento de todos, se encontra no jardim dos sentimentos, onde todos os sentidos se revoltam a cada nova negação de aceitação feita pelo poeta, que prefere o silêncio a ouvir mais uma daquelas baboseiras. Os sentidos, mostram-lhe muitas coisas belas que existem no mundo, por quais ele passou sem prestigiá-las.
Fugêncio Rabugento e Seu Epitáfio no Jardim dos Sentidos, uma peça produzida pela Cia. de Teatro Expressão de Amor, que se apresentou nesta sexta-feira de feriado, 07 de Setembro, no Teatro Barracão. Ingressos no valor de três reais, se esgotaram rapidamente, dando abertura a uma sessão extra, que se iniciou as seis e quarenta e cinco, também dia 07.
A Cia de Teatro nasceu em 1995, contendo 10 jovens integrantes que seguem estrada com textos de própria autoria e performances das mais variadas, atendendo assim todo o público. A Cia apresenta comédias, dramas, pantomimas, monólogos, fantoches, palhaços e arte circense.
Apesar de não terem formação acadêmica em artes, a Cia amadora, apresentou bom desempenho no palco, evidenciando a sintonia existente entre a equipe.
O texto de Alexandre Penha, passa uma mensagem positiva aos expectadores, de maneira criativa e divertida, misturando poesia e comédia. Em meio a um contexto literário, a história é interpretada de maneira trágica e cômica, arrancando risos sinceros da platéia. “Só a verdade e a beleza podem convencer o público.” Charles Chaplin.
Fugêncio, interpretado pelo ator Hudson Zanoni, conquista, não só, pelo seu engraçado mau-humor, mas também pela sua maneira de interagir com a platéia e dar umas pitadas de improviso, sem se desprender do contexto. Muito generoso em cena com os outros atores, ele conduziu seu papel de protagonista, sem deixar que a importância dos outros personagens fosse comprometida.
Ao decorrer da peça, um carro de som passa vagarosamente em frente ao Teatro, após uma fala que não se teve entendimento, os atores começam a interagir com a música, até ela se perder, sem prejudicar suas performances. A falta de isoladores acústicos nas paredes do Teatro, pode comprometer a qualidade de um espetáculo, pois até o barulhento caminhão da coleta de lixo, passa durante a noite, mostrando a má organização da Secretaria dos Serviços Públicos da cidade, pois este tipo de serviço, deveria ser feito em horários alternativos. Mas a atuação destes jovens, não fez feio perante a estes contratempos, apesar de algumas atuações, das atrizes coadjuvantes, terem sido faladas em baixo tom de voz, “Fugêncio”, leva a peça de maneira brilhante, fazendo com que o espetáculo cênico, não perca sua qualidade.
O mais interessante e satisfatório para nós, é saber que os próprios atores, fazem a direção de arte, por sinal muito bem reproduzida. O cenário, acompanhado de uma bela iluminação, deixou o ambiente aconchegante e equilibrado, com um leve ar de melancolia. Composto por um painel com a representação de uma estante de livros, e pilhas de livros espalhada ao chão do palco, transmitia a idéia de uma biblioteca, misturada a essência do jardim dos sentidos. A simplicidade do figurino dos atores se encaixava com o cenário, atingindo uma harmonia estética agradável aos olhos atentos do público, que interagia juntamente com os atores. Fugêncio como já devia de se esperar, esfarrapado, levando sempre agarrado a si, uma mala e um guarda-chuva, objetos que representavam seu desapontamento pela vida, em torno de sua rabugice.
O personagem do livreiro, interpretado por Alexandre Penha, criador do espetáculo, tenta juntamente com outros poetas, mostrar a Fugêncio, o lado belo da vida, através dos cinco sentidos, paladar, tato, olfato, audição e visão incluindo pequenas passagens de textos poéticos. Porém, o coração impenetrável, do velho rabugento, não se deixa tocar e sucumbe a sua morte, dando jus a seu Epitáfio de um poeta que nunca escreveu.
Após o término da peça, conversamos com Alexandre Penha e Weglison Castilho Cavalaro, que prestigiados com o trabalho do blog, mostrando simplicidade, e ética profissional, nos pediram uma crítica, para melhoramento de seus trabalhos. Em breves palavras, comentaram que estão no teatro, por amor à arte, e encaram isso como hobi, já que cada um tem sua profissão paralela.
Encerraram com a mensagem, que muitos jovens morrem aos vinte e poucos anos, e só são enterrados aos setenta ou oitenta.
Este grupo de teatro amador, nos mostra que é possível acrescentar ao meio cultural, espetáculos de qualidade artística, através de dedicação e uma dose extra de criatividade.
O Público, e o mundo das artes agradecem!
Dani Moreto
Karina Marques
Palavra Escrita
"Por vezes, quando estou escrevendo estes cadernos, tenho um medo idiota de que saiam póstumos. Mas haverá coisa escrita que não seja póstuma? Tudo que sai impresso é epitáfio."
QUINTANA, Mário. Do Caderno H.
Para os interessados, disponibilizamos aqui o endereço da Cia de Teatro Expressão de Amor: http://www.expressaodeamor.com.br/