segunda-feira, 10 de setembro de 2007

EMOÇÕES GUARDADINHAS






O drama de um poeta que passou a vida procurando algo que não via, ouvia e muito menos sentia, transformando seus anos em um misterioso caos. Um poeta que nunca se quer preencheu com suas palavras uma só linha? Sim! Esse tal de Fugêncio Rabugento. É ele mesmo! Que indignado com seu persistente fracasso poético, resolve partir, surgindo então seu Epitáfio que pela primeira vez antes de sua morte física escreve o seu primeiro e único poema. Sempre rude e impenetrável, o mais Rabugento de todos, se encontra no jardim dos sentimentos, onde todos os sentidos se revoltam a cada nova negação de aceitação feita pelo poeta, que prefere o silêncio a ouvir mais uma daquelas baboseiras. Os sentidos, mostram-lhe muitas coisas belas que existem no mundo, por quais ele passou sem prestigiá-las.

Fugêncio Rabugento e Seu Epitáfio no Jardim dos Sentidos, uma peça produzida pela Cia. de Teatro Expressão de Amor, que se apresentou nesta sexta-feira de feriado, 07 de Setembro, no Teatro Barracão. Ingressos no valor de três reais, se esgotaram rapidamente, dando abertura a uma sessão extra, que se iniciou as seis e quarenta e cinco, também dia 07.
A Cia de Teatro nasceu em 1995, contendo 10 jovens integrantes que seguem estrada com textos de própria autoria e performances das mais variadas, atendendo assim todo o público. A Cia apresenta comédias, dramas, pantomimas, monólogos, fantoches, palhaços e arte circense.
Apesar de não terem formação acadêmica em artes, a Cia amadora, apresentou bom desempenho no palco, evidenciando a sintonia existente entre a equipe.
O texto de Alexandre Penha, passa uma mensagem positiva aos expectadores, de maneira criativa e divertida, misturando poesia e comédia. Em meio a um contexto literário, a história é interpretada de maneira trágica e cômica, arrancando risos sinceros da platéia. “Só a verdade e a beleza podem convencer o público.” Charles Chaplin.
Fugêncio, interpretado pelo ator Hudson Zanoni, conquista, não só, pelo seu engraçado mau-humor, mas também pela sua maneira de interagir com a platéia e dar umas pitadas de improviso, sem se desprender do contexto. Muito generoso em cena com os outros atores, ele conduziu seu papel de protagonista, sem deixar que a importância dos outros personagens fosse comprometida.
Ao decorrer da peça, um carro de som passa vagarosamente em frente ao Teatro, após uma fala que não se teve entendimento, os atores começam a interagir com a música, até ela se perder, sem prejudicar suas performances. A falta de isoladores acústicos nas paredes do Teatro, pode comprometer a qualidade de um espetáculo, pois até o barulhento caminhão da coleta de lixo, passa durante a noite, mostrando a má organização da Secretaria dos Serviços Públicos da cidade, pois este tipo de serviço, deveria ser feito em horários alternativos. Mas a atuação destes jovens, não fez feio perante a estes contratempos, apesar de algumas atuações, das atrizes coadjuvantes, terem sido faladas em baixo tom de voz, “Fugêncio”, leva a peça de maneira brilhante, fazendo com que o espetáculo cênico, não perca sua qualidade.
O mais interessante e satisfatório para nós, é saber que os próprios atores, fazem a direção de arte, por sinal muito bem reproduzida. O cenário, acompanhado de uma bela iluminação, deixou o ambiente aconchegante e equilibrado, com um leve ar de melancolia. Composto por um painel com a representação de uma estante de livros, e pilhas de livros espalhada ao chão do palco, transmitia a idéia de uma biblioteca, misturada a essência do jardim dos sentidos. A simplicidade do figurino dos atores se encaixava com o cenário, atingindo uma harmonia estética agradável aos olhos atentos do público, que interagia juntamente com os atores. Fugêncio como já devia de se esperar, esfarrapado, levando sempre agarrado a si, uma mala e um guarda-chuva, objetos que representavam seu desapontamento pela vida, em torno de sua rabugice.
O personagem do livreiro, interpretado por Alexandre Penha, criador do espetáculo, tenta juntamente com outros poetas, mostrar a Fugêncio, o lado belo da vida, através dos cinco sentidos, paladar, tato, olfato, audição e visão incluindo pequenas passagens de textos poéticos. Porém, o coração impenetrável, do velho rabugento, não se deixa tocar e sucumbe a sua morte, dando jus a seu Epitáfio de um poeta que nunca escreveu.
Após o término da peça, conversamos com Alexandre Penha e Weglison Castilho Cavalaro, que prestigiados com o trabalho do blog, mostrando simplicidade, e ética profissional, nos pediram uma crítica, para melhoramento de seus trabalhos. Em breves palavras, comentaram que estão no teatro, por amor à arte, e encaram isso como hobi, já que cada um tem sua profissão paralela.
Encerraram com a mensagem, que muitos jovens morrem aos vinte e poucos anos, e só são enterrados aos setenta ou oitenta.
Este grupo de teatro amador, nos mostra que é possível acrescentar ao meio cultural, espetáculos de qualidade artística, através de dedicação e uma dose extra de criatividade.
O Público, e o mundo das artes agradecem!



Dani Moreto
Karina Marques


Palavra Escrita
"Por vezes, quando estou escrevendo estes cadernos, tenho um medo idiota de que saiam póstumos. Mas haverá coisa escrita que não seja póstuma? Tudo que sai impresso é epitáfio."
QUINTANA, Mário. Do Caderno H.


Para os interessados, disponibilizamos aqui o endereço da Cia de Teatro Expressão de Amor: http://www.expressaodeamor.com.br/


segunda-feira, 3 de setembro de 2007

O TEATRO GRITA SOCORRO


O TEATRO GRITA SOCORRO

A sociedade maringaense, presenciou neste Sábado, 01 de setembro, mais uma peça teatral, Na Era do Rádio. Por uma sede de cultura o publico lotou o Teatro Barracão. A preços não populares de vinte reais e um texto do professor e escritor Naylor Marques, adaptado pelo professor e diretor de teatro Fabio Moraes, esperava-se um espetáculo digno de um nível artístico e cultural por quem foge do lixo global que nos é oferecido diariamente.

Porém o profissionalismo da equipe deixou a desejar logo de início, ao invés de recebermos um folheto explicativo e informativo referente a peça, recebemos um folheto de propaganda sobre a escola.

O espetáculo que seria a representação de uma rádio (Rádio Nacional), contou com atores que se quer decoraram o texto, sem total presença de palco e voz, os atores com seus respectivos roteiros em mãos, não conseguiram atingir nossas expectativas artísticas. Com isso, fica evidente a falta de laboratório e estudos de cada ator.

Ao longo da peça nota-se a indicação de vários plágios. Como personagens da famosa comédia Terça Insana, com pitadas de Zorra Total, seguidas de mais imitações do grande intelectual Jô Soares e por fim as conhecidas palavras do comercial do chocolate Batom, “Compre Batom, compre Batom”.

A peça se desenrola inacreditavelmente tirando risos e aplausos do despreparado público, sendo que, os próprios atores estavam despreparados culturalmente.

Uma banda no canto direito do proscênio nos assustou, por fim foi o que salvou o espetáculo. Uma velha no outro canto do proscênio acompanha fielmente, a programação da Rádio Nacional, por ser uma fã apaixonada pelo músico da época Orlando Silva, não nos acrescentou em nada o desenvolver da peça.

Numa apresentação do programa de melhor de três, com uma chamada idêntica da Maringá FM, três atores dublaram precariamente os seguintes cantores: Carmem Miranda, Orlando Silva e Dalva de Oliveira. As músicas eram dubladas inteiras, deixando a platéia cansada e entediada, principalmente na dublagem de Carmem Miranda, constata-se que a atriz se quer teve a capacidade de pesquisar seu personagem. “Ainda bem que Carmem Miranda não está mais presente, pois ela, ficaria como nós, decepcionada com a exposição mal feita de sua imagem.” Com gestos de boca e mãos repetitivos e inexpressivos, a atriz parecia não saber o que fazer na frente do palco.

Em um quadro que se dizia ser humorístico, com dois personagens: Tancredo e Trancada, as piadas eram totalmente clichês, não apresentando nenhuma ajuda dos atores, que possuíam uma interpretação pobre, nos deixando com dificuldade de compreender o papel de ambos. Talvez, os expectadores da primeira fila, ouviram, o que nós, da sétima fileira, não ouvimos.

Já em outro quadro, que falava de astrologia, a péssima dicção da atriz, nos deixou com dificuldades de compreender o contexto de seu papel. “Era pra ser engraçado!”

Com todas as más interpretações fica indispensável citar o papel de uma vidente que mesmo lendo o roteiro, teve a capacidade de errar e se desculpar para o público. “Sinceramente é imperdoável!!!”

No quadro de duelos entre homens e mulheres foram vomitadas piadas sem graça, que com fácil acesso são encontradas em sites humorísticos da Internet.

Também fica aqui indispensável citar a precária e insegura interpretação da atriz que dizia ser uma socialite, como todos, o seu roteiro também estava em mãos, a atriz além de ler parecia que conversava com o público, com suas gaguejadas que ficavam evidente a cada palavra lida.

Mesmo com o roteiro em mãos os atores conseguiram apresentar erros nas falas. E como estudantes de Artes, nossa indignação maior, foi a falta de criatividade e sensibilidade na execução da direção de arte. “Se é que teve!”, pois o cenário era absurdamente pobre, notando a falta de conhecimento estético na contextualização e fruição artística da suposta diretora de arte, que na verdade só cuidava das coxias.

Para finalizar, após todo o desastre teatral, ainda tivemos que presenciar homenagens, discursos e agradecimentos de praticamente toda a escola. É inadmissível, que uma escola de teatro, que se diz de nível profissional, fique em cima do palco em torno de uns trinta minutos, como se fosse peças de primário apresentadas em colégios, onde os pais sobem ao palco para tirarem fotos com os filhos atores.

Como diz o escritor português António Lobo Antunes; “A adesão é emocional e afetiva em qualquer obra de arte. O melhor crítico de teatro é a bunda. Quando a peça não é boa, ela começa a doer.” Sem mais palavras foi isso o que aconteceu conosco, era gigantesca a vontade de sair da platéia, a peça nos trouxe desilusão e decepção. É como se vivêssemos em uma sociedade suicida. Para os atores esperamos que cada um, encontre sua voz, se dedique mais ao teatro, pois ser ator, é um trabalho como outro qualquer, tem de trabalhar o tempo todo nisso, se não como nos ficou evidente, o que se faz, nunca se tornará bom.

Conseguir assassinar um texto relativamente bom, é privilégio para poucos, mas se orgulhar do assassinato, é algo extremamente grave!

Pelo amor que temos pela arte, queremos gritar que arte, não pode ser algo que nos cause vergonha. Arte enobrece, eleva, sensibiliza, requer estudo, dedicação.

Arte pode ser tudo, mas certamente não é qualquer coisa!

A arte pede socorro!

Dani Moreto

Karina Marques